Quem tem um sonho não dança


Quem Tem Um Sonho Não Dança

 

Na segunda metade século 20, o aspecto lúdico foi posto de lado e surgiu então a famosa Era da Reprodutibilidade Técnica, cunhada por Walter Benjamin. A partir de então, toda esta fixação pelo passado mudou de figura e tornou-se também altamente rentável economicamente para as empresas que lidam com a cultura como comércio.

Inegável que as conseqüências desta cultura mercantilista tenham explodido de vez na década de 80, em todas as áreas imagináveis. No Brasil isto também se refletiu, com as inúmeras apostas de gravadoras em bandas de rock. Mas, ao contrário de outros lugares do mundo, no Brasil, a década de 80 serviu também como a primeira grande afirmação de uma cultura jovem.

É disto que `Quem Tem Um Sonho Não Dança - Cultura Jovem Brasileira nos Anos 80` (editora Record), de Guilherme Bryan, versa em suas mais de quinhentas páginas. Se nos outros países a década de 80 foi fértil na criação de novos estilos e gêneros, no Brasil foi o tempo de, finalmente, a cultura jovem ser descoberta e colocada em evidência.

No livro, Bryan percorre a trilha do Asdrúbal Trouxe o Trombone até seu final, com a consolidação final de bandas e artistas. Aliás, este é o grande mérito do livro: interdisciplinaridade. Artes plásticas, música, cinema, televisão. O autor mapeia com precisão o que melhor foi realizado na época e toda a sua importância histórica. Talvez por isto, quando comparado ao `Dias de Luta`, de Ricardo Alexandre, que trata somente das bandas brasileiras da época, o livro de Bryan seja inferior. Mas esta deficiência é reparada pela inclusão mais ampla de diversos assuntos.

Ainda que a literatura tenha sido esquecida pelo autor, o trabalho de pesquisa consistente garante informações saborosas para quem viveu na época ou apenas tem apenas algumas referências. O ponto fraco, realmente, da obra está em algumas confusões de vai e vem, ou seja, em determinados momentos Bryan cita uma banda ou disco e só volta a citá-los novamente em outra parte do livro, num contexto estranhamente inserido. Pequenos lapsos de continuidade perdoáveis devido ao volume de trabalho.

`Quem Tem Um Sonho Não Dança` ainda não é o livro definitivo sobre todas as mudanças que a década de 80 trouxe para a cultura brasileira, principalmente porque falta, nesta obra, uma análise mais profunda sobre os seus resultados ecoando até hoje e a promíscua relação com a indústria cultural. De todo o modo, o trabalho de Guilherme Bryan deve ser louvado por ser um desbravador. Mais uma vez, um livro-reportagem mostra que, neste quesito, a literatura brasileira anda muito bem servida.
 
Título: Guilherme Bryan - Quem Tem Um Sonho Não Dança
Editora: Record

Por Danilo Corci